Marcação de datas: uma oportunidade de prevenção do desperdício alimentar

  • By Sobre a Domino
  • fevereiro 12, 2021
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A redução do desperdício alimentar é uma diligência global. O Objetivo 12 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas é "garantir padrões de consumo e produção sustentáveis", incluindo o objetivo de, "até 2030, reduzir para metade o desperdício de alimentos per capita a nível mundial, de retalho e do consumidor, e reduzir os desperdícios de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento"[i].

 

Os estados-membros acolheram esta iniciativa e as entidades regulamentares, nomeadamente a Comissão Europeia, procederam à revisão de algumas normas, entre elas as normas[ii] relativas à capacidade de os retalhistas doarem o seu excedente alimentar. No Reino Unido, muitos retalhistas, detentores de marcas, fabricantes e fornecedores também se comprometeram a atingir as metas do Courtauld Commitment 2025,[iii] que tem como objetivo melhorar a eficiência dos recursos e reduzir o desperdício no setor dos produtos de mercearia.

 

Como resultado, a indústria acolheu novas soluções e tecnologias para a redução do desperdício alimentar, nomeadamente embalagens resseláveis, embalagens de tamanho mais reduzido e divididas, bem como esforços para aumentar a vida útil dos produtos implementando eficiências nos sistemas de entrega e armazenamento.

 

E o que fazer com a causa mais significativa do desperdício alimentar do consumidor: alimentos com data expirada?

 

Lee Metters, Diretor de Desenvolvimento Comercial do Grupo na Domino Printing Sciences (Domino), analisa as diversas práticas internacionais de datação de alimentos (também conhecidas como "marcação de durabilidade") e considera o potencial que uma maior clareza e consistência na etiquetagem alimentar poderia trazer para a redução do desperdício.

Análise da terminologia

Segundo estudos do The Waste and Resources Action Programme (WRAP),[i] todos os anos são desperdiçados 7,3 milhões de toneladas de alimentos no Reino Unido. Cerca de 660 000 toneladas desse desperdício devem-se, de alguma forma, à etiquetagem de datas, representando quase 10% do total. Isto ocorre em parte devido à forma como diferentes compradores podem interpretar a etiquetagem de datas nas embalagens de alimentos.

 

O problema é agravado pela utilização de diferentes termos e regulamentos na datação dos alimentos. Até recentemente, as expressões "display until" (apresentar até) e "sell by" (vender até) eram comuns nos retalhistas do Reino Unido e, na UE, eram muitas vezes encontradas junto às datas de "consumir de preferência antes de" e "consumir até". Já nos Estados Unidos, sem descrições uniformes ou universalmente aceites utilizadas nas etiquetas dos alimentos, os consumidores são confrontados com expressões como "expiration" (validade), "use by" (consumir até), "best by" (consumir de preferência antes de), "sell by" (vender até), "best if used by" (ideal se consumido antes de), "best through" (preferível até), entre outras.

 

Todavia, além de "use by" (consumir até), nenhuma destas datas tem que ver com a segurança do produto. Por exemplo, "best before", "best by" e "best if used by" indicam a data até à qual o produto apresentará a melhor qualidade ou sabor, enquanto "display until" e "sell by" indicam ao retalhista a data até à qual pode apresentar o produto para venda, para gestão de inventário.

 

Em 2017, o WRAP, em conjugação com o FSA e o Ministério do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (DEFRA) do Governo do Reino Unido, lançaram novas diretrizes para os retalhistas apresentarem aos compradores indicações de datas simples e mais consistentes. O documento "Labelling Guidance – Best practice on food date labelling and storage advice" (Orientações de etiquetagem – boas práticas de etiquetagem de datas e aconselhamento de armazenamento de alimentos)[ii] recomenda como boa prática "ter apenas uma etiqueta de data em cada produto.

 

Estas orientações recomendam ainda a aplicação de "use by" (consumir até) apenas quando existem motivos de segurança alimentar para tal e ajudam a identificar quando se deve utilizar informações adicionais, tais como instruções de armazenamento e congelamento. Salienta-se que o documento do WRAP deverá ser utilizado em conjunto com o regulamento da UE n.º 1169/2011 relativo à informação sobre os géneros alimentícios prestada aos consumidores, os The Food Information Regulations 2014 e outras diretrizes relacionadas, não se pretendendo que substitua as diretrizes já em vigor.

Análise das normas de datação de alimentos

Embora existam diferenças entre as normas de datação de país para país, há uma distinção entre as datas que se referem à qualidade do produto e as que estão ligadas à saúde, segurança e bem-estar do consumidor.

 

No Reino Unido, a organização de investigação e consultoria alimentar Campden BRI deixa claro que os consumidores não devem consumir um produto depois de passada a data "consumir até", devido a preocupações associadas à segurança. Todavia, e de acordo com a Food Standards Agency (FSA), a data "consumir de preferência antes de" tem que ver com a "qualidade e não com a segurança". As recomendações são semelhantes em França, onde a Agência Francesa de Alimentação, Ambiente e Saúde e Segurança Ocupacional[i] indica que as datas "consumir até" devem ser respeitadas, sendo que tudo o que vá além dessa data "está legalmente impróprio para consumo, uma vez que pode representar um risco para a saúde do consumidor".

 

Compreender como se determina a validade de um produto pode ajudar a compreender a relevância e a importância destas etiquetas de datas. Segundo a Campden BRI[ii], existem várias formas de análise para se chegar à data "consumir até" e "consumir de preferência antes de" de um produto.

 

No caso de datas "consumir até", pode realizar-se um teste de validade em que o produto é embalado e sujeito a testes microbiológicos durante um período específico. Assim que as substâncias microbiológicas ultrapassam determinados níveis, considera-se que o produto está no "fim de vida". Existem outras formas de teste, por exemplo, modelos de previsão, em que se utiliza software para prever a validade de um produto, ou um teste de desempenho, em que se introduzem microrganismos num produto embalado para verificar se se desenvolvem.

 

Em datas "consumir de preferência antes de", podem realizar-se avaliações sensoriais para verificar a aparência, o odor, o sabor e a sensação dos produtos na boca, análises de textura, que testam até que ponto os produtos de padaria e pastelaria ficam duros, e análises químicas, que avaliam aspetos como manchas e ranço no perfil de sabor de um produto. 

 

A vertente de qualidade da data "consumir de preferência antes de" levou algumas pessoas a acreditar que se tratam de datas arbitrárias, chegando a fomentar o desperdício alimentar. Contudo, o WRAP indica[iii] que a presença de uma etiqueta de data de qualquer tipo diminui a probabilidade de as pessoas eliminarem o alimento antes dessa data, o que sugere que as datas poderão contribuir para a luta contra o desperdício alimentar.

 

Na UE, não existe atualmente um requisito legal de etiquetas de data em frutas e legumes frescos e não cortados. A utilização de um código de data em produtos de validade curta com um tempo limitado de consumo pode encorajar os consumidores a ingerir os produtos antes de estes se estragarem. O WRAP recomenda a remoção de etiquetas de data dos produtos frescos, sempre que apropriado, encorajando as pessoas a avaliarem até quando podem consumir o produto fresco. 

Iniciativas internacionais para a redução do desperdício

Em todo o mundo, as organizações têm trabalhado arduamente para resolver a confusão dos consumidores relativamente à etiquetagem de datas, num esforço para reduzir o desperdício alimentar. No Reino Unido, a campanha Love Food Hate Waste (Ama os alimentos, rejeita o desperdício) pretende sensibilizar para a necessidade de reduzir o desperdício alimentar, dando conselhos práticos que ajudam as pessoas a desperdiçarem menos alimentos. Por outro lado, a organização dinamarquesa Too Good to Go trabalha com vários outros países, nomeadamente a Noruega, Áustria, Suíça, Portugal e Polónia, para reduzir o desperdício alimentar.

 

A organização pede uma etiquetagem de datas mais clara e iniciativas que permitam que as lojas, cafés e restaurantes locais vendam ou doem o excedente alimentar em vez de o desperdiçarem. Num artigo recente intitulado "Expiration dates, an outdated idea?" (Datas de validade, uma ideia fora de prazo?), a organização confirma a investigação do WRAP, indicando que 49% dos europeus consideram que uma informação melhorada e mais clara das datas "consumir até" e "consumir de preferência antes de" seria útil para reduzirem o desperdício alimentar nas suas casas.[i]

 

Já foram feitos vários esforços para combater esta causa subjetiva de desperdício, nomeadamente a campanha "Often Good After" (Muitas vezes ainda está bom) para relembrar os consumidores de que os alimentos podem ser consumidos depois dessa data se apresentarem um odor e um sabor aceitáveis. A campanha "Often Good After" encoraja os consumidores a confiarem nos seus sentidos ao verificarem a validade do produto. Alguns fabricantes de alimentos como a Unilever, a Carlsberg e a Arla Foods trabalharam em colaboração com a Too Good To Go para fomentarem a iniciativa. A Carlsberg e a Arla Foods acrescentaram uma data "Often Good After" em determinadas cervejas e produtos lácteos e a Unilever adotou a etiqueta para as mini refeições de noodles de arroz da Knorr.

Análise das alternativas

Enquanto vários fabricantes de alimentos acolhem as iniciativas internacionais de redução de desperdício, nos bastidores vai-se trabalhando para investigar materiais de embalagem alternativos ao plástico. Uma embalagem alternativa pode aumentar a validade de muitos produtos, proporcionando conveniência, mas minimizando ao mesmo tempo o desperdício. Vários organismos da indústria [i]já se expressaram relativamente à pressão que as empresas enfrentam para reduzir a utilização de plástico sem aumentar o desperdício alimentar.

 

A indústria, que inclui os fabricantes de alimentos e os revendedores de produtos de mercearia, está cada vez mais ciente da possibilidade de aumento do desperdício alimentar com a redução do plástico. Isto pode mudar à medida que a indústria aprende mais sobre as alternativas aos plásticos. Estão atualmente a ser projetadas algumas datas "consumir de preferência antes de" para novos materiais de embalagens, muitas vezes conferindo aos produtos validades mais curtas, as quais vão aumentando à medida que os estudos progridem.

 

A utilização de embalagens alternativas tem o apoio de grupos e iniciativas como o NanoPack, um projeto financiado pela UE[ii] que pretende aumentar a validade dos produtos através de tecnologias ativas de embalagem de alimentos. Outras metodologias incluem a utilização de materiais de base vegetal ou alimentar em películas e revestimentos de proteção, bem como a utilização de nanopartículas antioxidantes, conforme discutido num relatório recente da PreScouter[iii].

 

Embora tudo isto seja vital, conforme realçado pela Campden BRI[iv], o passo que se segue quando se utiliza qualquer material é a redefinição da validade do produto. Se forem utilizados materiais alternativos, isso também implicará a avaliação do próprio material da embalagem e não só dos alimentos que contém. Este ponto é extremamente importante para se definir o código de data adequado para os produtos, para garantir que os alimentos não se estragam antes de chegarem ao consumidor.

Os fabricantes de alimentos embarcaram claramente nesta viagem e muitos estão a demonstrar o seu compromisso para reduzir o desperdício alimentar ao trabalharem em colaboração com organizações que se destacam na área. Vimos que diversas iniciativas e organizações da indústria estão à procura de materiais de embalagem alternativos, numa tentativa de resolver a confusão em torno da marcação de datas para reduzir o desperdício alimentar e tornar as embalagens de alimentos mais sustentáveis, o que nos mostra que estão a ser tomadas medidas na direção certa.

 

Com a constante mudança dos regulamentos, os fabricantes do setor de alimentos e bebidas devem esforçar-se por trabalhar com organizações que tenham conhecimentos atualizados sobre os requisitos da codificação de datas e os regulamentos relativos à codificação e marcação, para continuarem em conformidade com a lei e contribuírem para o objetivo global de redução do desperdício alimentar. 

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