Será a rastreabilidade de alimentos obrigatória o próximo grande passo na segurança do consumidor?

  • By Sobre a Domino
  • outubro 04, 2022
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Na última década, assistiu-se a um aumento marcado nos requisitos de rastreabilidade regulamentar que visam proteger os consumidores. A serialização por itens para segurança do doente é um requisito regulamentar em diversas indústrias, nomeadamente as de dispositivos médicos, farmacêutica e tabaco. Tendo em conta o crescente foco global na saúde e segurança do consumidor, os produtores de todos os setores devem preparar-se para novas regulamentações que obriguem a uma rastreabilidade por itens e por lotes.

A indústria alimentar, que foi nos últimos anos abalada por vários escândalos em matéria de segurança do consumidor, é uma forte candidata no que diz respeito à rastreabilidade. Na verdade, já se esperam exigências adicionais de manutenção de registos de rastreabilidade em alguns produtos alimentares, como parte da próxima atualização da Food Safety Modernization Act (Lei de modernização da segurança alimentar) nos Estados Unidos.

Neste sentido, Adem Kulauzovic, Diretor de Automatização na Domino, explica em que medida a manutenção de registos de rastreabilidade, sobretudo a codificação de lotes, tem um papel fundamental na retirada rápida e precisa de alimentos não seguros. Além disso, revela os benefícios para as marcas que procuram uma adoção voluntária precoce.

Adem Kulauzovic

Recolhas de alimentos e segurança do consumidor

Uma das forças motrizes por detrás da rastreabilidade dos produtos na indústria alimentar é a segurança do consumidor e a necessidade de retirar produtos da venda na sequência de um incidente de segurança alimentar. São exemplos de incidentes que requerem uma recolha a presença de alergénios ou aditivos não declarados em alimentos embalados ou a contaminação de produtos em cru.

A rastreabilidade dos produtos através da codificação e marcação pode ser um método de controlo dos alimentos na cadeia de abastecimento, permitindo uma recolha rápida e eficiente dos produtos afetados quando for necessário. Se surgir uma situação que exija uma recolha de produto, os produtores, processadores e fabricantes podem utilizar os códigos do produto para identificar os produtos ou lotes afetados e localizá-los. Este aspeto ajuda a definir os parâmetros de uma recolha, minimizando o desperdício e reduzindo o tempo necessário para resolver o problema sem comprometer a segurança do consumidor.

Sem registos de rastreabilidade, os incidentes de segurança alimentar podem exigir recolhas a nível nacional para garantir a retirada de todos os produtos afetados. Foi esse o caso nos EUA em 2018, com um surto de E. coli ligado à venda de alface-romana. Na altura, foi difícil para a FDA localizar a origem do surto de E. coli porque os registos de rastreabilidade eram deficitários, o que conduziu a recolhas a nível nacional. A incapacidade de comprar alface-romana pode parecer uma questão trivial. Ainda assim, a recolha teve repercussões vastas, afetando supermercados, espaços hoteleiros e fabricantes de alimentos que utilizavam alface-romana para posterior transformação em alimentos embalados.

Um relatório de 2021 sobre o impacto económico do surto de E. coli estima que as recolhas atingiram mais os processadores e expedidores. O custo total da retirada de todas as alfaces-romanas colhidas da cadeia de abastecimento foi estimado em cerca de 20,6 milhões de dólares, com custos adicionais de 37,3 milhões de dólares de stock desperdiçado que não pôde ser colhido ou vendido[i].

Além do impacto económico direto da recolha da alface-romana, é preciso considerar também os danos para as marcas. Muitos espaços hoteleiros e fornecedores de produtos embalados viram-se incapacitados de fornecer os seus produtos normais, o que conduziu a uma inevitável perda de clientes. As recolhas de alimentos também podem causar danos graves à imagem de uma marca, traduzindo-se na perda de vendas muito após a ocorrência de um incidente de segurança alimentar.

Soluções de rastreabilidade em produtos do setor alimentar e de bebidas

A perspetiva de implementar processos de fabrico adicionais para permitir a rastreabilidade pode parecer dispendiosa. Na verdade, a serialização por itens, tal como a exigida no sector farmacêutico em muitos países, teve um custo elevado para as empresas, mas tal não significa que todas as medidas de rastreabilidade tenham de ser dispendiosas.

Para produtos alimentares de baixo valor e elevado rendimento, como a fruta e os legumes frescos, é possível simplificar a rastreabilidade por lotes utilizando etiquetas únicas nas caixas e nas paletes. Este tipo de etiquetagem por lote fornece uma cadeia de responsabilidade pelos lotes dos produtos, rastreável até ao revendedor ou processador de alimentos exato que recebe uma remessa e, em reverso, até ao campo onde o produto foi cultivado, bem como em todas as etapas intermédias.

No caso de um incidente de segurança alimentar, a rastreabilidade por lote permite às explorações agrícolas identificar exatamente os fornecedores que receberam o seu stock, e permite aos revendedores e processadores determinar de onde poderá ter vindo um produto comprometido.

Espera-se que estes requisitos de rastreabilidade por lotes entrem em vigor para alguns produtos frescos, como parte da próxima atualização da Food Safety Modernization Act (Lei de modernização da segurança alimentar) nos Estados Unidos. Os novos requisitos, com os quais se pretende facilitar o rastreio do movimento dos alimentos e evitar ou mitigar doenças de origem alimentar, aplicar-se-ão a todas as organizações que produzem, processam, embalam ou detêm alimentos considerados de "risco elevado".

Alguns dos produtos mais falsificados

Fraude alimentar, contrafações e adulterações

A implementação da rastreabilidade por lotes nos alimentos frescos pode também ajudar a proteger as marcas e os consumidores do risco de fraude alimentar, sobretudo alimentos contaminados com aditivos não declarados, algo também conhecido como "adulteração alimentar". A adulteração alimentar pode acontecer quando matérias-primas fraudulentas contaminam cadeias de abastecimento legítimas, colocando em risco tanto as empresas como os consumidores.

O risco de adulteração alimentar é particularmente prevalecente hoje em dia, devido aos problemas generalizados que se verificam na cadeia de abastecimento e à escassez mundial de matérias-primas. Assistimos a uma das maiores crises da história moderna nas cadeias de abastecimento, resultante da pandemia da COVID-19, das alterações climáticas, da escassez mundial de trabalhadores, de perturbações no fornecimento de energia e de outras pressões geopolíticas.

Quando faltam matérias-primas, surgem inevitavelmente alternativas de qualidade inferior ou contrafeitas para preencher a lacuna, e as marcas procuram fora dos seus fornecedores habituais aprovados para completar a cadeia de abastecimento, o que os torna o principal alvo dos fornecedores de produtos ilegítimos. De facto, a Food Authenticity Network revela que a fraude alimentar, em termos globais, aumentou substancialmente desde o surgimento da COVID-19 em 2020, com casos de adulteração de alimentos a crescerem mundialmente em 30%.

Como acontece com todos os produtos de contrafação, as matérias-primas de contrafação podem levar à perda de receitas da marca e à perda de confiança por parte dos consumidores se a sua utilização resultar num produto final visivelmente inferior, mas a questão vai muito além do pagamento mais caro de produtos baratos por parte dos consumidores. Os alimentos fraudulentos podem representar um risco grave para a saúde se forem inadvertidamente adicionados alergénios não identificados ou matérias perigosas a produtos alimentares.

Alguns dos produtos alvo de maior contrafação incluem:

  • Azeite: os produtos contrafeitos diluídos com óleo de valores inferiores ou abaixo dos padrões podem conter alergénios ocultos (por exemplo, óleos de frutos secos) ou óleos que não são apropriados para consumo humano.
  • Leite: foi encontrada melanina, um composto altamente proteico que causa problemas nos rins, em produtos lácteos diluídos e de qualidade inferior.
  • Mel: o mel produzido de forma ilícita pode ser diluído com ou composto inteiramente de açúcar refinado ou xaropes. Também já se verificou que o mel adulterado pode conter antibióticos potencialmente nocivos.
  • Vinho e bebidas brancas: os produtos alcoólicos de contrafação contêm muitas vezes substâncias que podem ser altamente prejudiciais para a saúde humana, nomeadamente metanol, anticongelante, removedor de verniz e decapante.
  • Frutos do mar: a fraude com frutos do mar é um problema mundial que se traduz na substituição de variedades de peixe dispendiosas por produtos de menor valor. Um substituto frequente de algumas variedades de atum é o escolar, um peixe oleoso e de difícil digestão que pode causar problemas gastrointestinais. A venda de escolar é proibida em alguns países, incluindo o Japão e a Itália.

Na sua última operação entre dezembro de 2019 e junho de 2020, a Interpol apreendeu mais de 40 milhões de dólares de alimentos e bebidas de contrafação potencialmente perigosos. Entre os artigos, foram descobertos produtos lácteos contaminados com bactérias, carne de animais abatidos ilegalmente e mais de 20 milhões de dólares em bebidas alcoólicas ilícitas, nomeadamente vinho e vodka.

A rastreabilidade por lotes pode ajudar as marcas a reduzir o risco de contrafações e adulteração de alimentos, começando pela exigência de que os fornecedores apresentem os dados da cadeia de abastecimento em cada lote de ingredientes no momento do abastecimento e da entrega. A partir daí, pode agregar-se esta informação em cada etapa adicional da cadeia de abastecimento, nomeadamente no processamento e na entrega a revendedores, proporcionando um muito necessário registo de auditoria de cada lote de ingredientes.

Aceitação da rastreabilidade na cadeia de abastecimento alimentar

Os incidentes de segurança alimentar e os produtos alimentares adulterados e de contrafação podem ser tão perigosos como os produtos farmacêuticos de contrafação, pelo que a indústria alimentar é uma forte candidata à rastreabilidade regulamentar. Portanto, quem ainda não tem uma solução de rastreabilidade não deve esperar pela regulamentação, pois o momento de agir é agora.

Além da conformidade e da segurança do consumidor, a rastreabilidade integral dos produtos alimentares e de bebidas representa também uma oportunidade para as marcas permitirem uma maior troca de dados com revendedores, fornecedores e consumidores. Estes dados representam novas oportunidades para que as empresas do setor alimentar possam resolver riscos e desafios operacionais, proporcionando a transparência necessária para gerir as cadeias de abastecimento de forma mais eficiente.

À medida que avançamos na era do Big Data, este tipo de soluções será uma parte fundamental do dia a dia das empresas e um diferencial competitivo de peso. Todas as marcas que trabalham com o setor alimentar e de bebidas devem preparar-se para aceitar esta oportunidade.

Sendo fornecedora líder de soluções de codificação e marcação, a Domino pode ajudar as marcas que procuram implementar a rastreabilidade dos seus produtos e fornecer as ferramentas automatizadas e a tecnologia de cloud necessária para partilhar informações e facilitar a transparência nas cadeias de abastecimento.

Caso pretenda aconselhamento relativamente à implementação da rastreabilidade de produtos nas suas linhas de produção, entre em contacto connosco. Os nossos especialistas mundiais estão disponíveis para discutir as melhores soluções que o ajudarão a salvaguardar os consumidores, proteger a sua marca e preparar as suas operações para o futuro.

[i] https://kiesel.ucdavis.edu/Full%20Report.pdf

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